Ângelo Beck

O homem infinitamente rico

Postado em 25 de Maio de 2018

Por Ângelo (administrador)

Ele era jovem ainda. Trabalhava no campo com sua enxada, como havia aprendido com seu pai. Casara-se cedo, como era de costume, e já tinha um filhinho que dava os primeiros passos.

Era responsável, e cada dia de trabalho, pensava em como trazer mais conforto para a sua família. Assim, esforçava-se muito para tirar da terra o sustento para a sua família.

Mas não parecia ser suficiente. Por mais que se esforçasse, sua situação continuava a mesma.

Mas ele desejava muito, do fundo do seu coração, se tornar um homem rico. Tão rico que pudesse ter tudo o que desejasse. A cada golpe da enxada, desejava se tornar rico, muito rico.

Um dia, exausto deitou-se na cama, fechou os olhos e orou a Deus. Orou pedindo para que Deus lhe mostrasse o caminho para a prosperidade. E assim orando, adormeceu.

Sonhou que um anjo lhe apareceu e lhe perguntou:

  • O Senhor ouviu suas preces e mo enviou para que eu venha lhe dizer: no campo em que você trabalha, debaixo da terra, há um imenso tesouro enterrado. Desenterre-o e serás muito mais rico do que jamais desejaras ser.

Quando acordou, o homem mal cabia em si de alegria. Quase não capinava mais o campo. Preferia cavar a terra com a picareta, à procura do tesouro prometido.

Cavava buracos profundos, movendo grandes montes de terra. Cavava aqui e cavava acolá.

Mas o tempo foi passando, e nada encontrava. Nenhum sinal de ouro ou de baús enterrados naquela terra.

Trabalhava de sol a sol, com esforço, com determinação. Mas os meses iam passando, e cada vez menos riquezas possuía. Já passavam fome, ele, sua esposa e seu filhinho.

Um dia decidiu que não iria mais cavocar a esmo: comprou um detector de metais.

Agora certamente iria encontrar o tesouro sem demora.

Não demorou muito até que o detector de metais acusasse a presença de algum metal sob o solo. Cavocou ali e encontrou uma velha ferradura.

Continuou rastreando, até que novamente cavocou, e encontrou um velho ansinho enterrado.

Sem desanimar, continuou sua busca, até que um forte sinal indicava a presença de algo realmente grande. Cavou, cheio de esperança, e encontrou um velho arado, tão enferrujado que mal se lhe podia reconhecer.

Então desanimou-se. Voltou para a casa triste, deitou-se na cama e desejou dormir para nunca mais acordar.

Seus braços e pernas pareciam de chumbo. Estava tão cansado que acreditava mesmo que nunca mais acordaria. No seu desespero, pediu a Deus que o levasse.

Então fechou os olhos e afundou-se na escuridão.

Foi afundando, afundando, talvez por um segundo, talvez por uma eternidade. Até que, ao longe, avistou uma luz. Caminhou em direção a ela, e reconheceu aquele anjo que viera anos atrás.

Perturbado, olhou para o anjo, sem saber que palavra pronunciar, até que o anjo quebrou o silêncio, perguntando:

  • Estás com uma cara abatida. O que fizestes da tua riqueza?

  • Que riqueza? - retrucou indignado o homem - Cavei a terra a vida inteira e não encontrei nada! Você me prometeu que havia um tesouro enterrado naquele chão, e eu passei anos da minha vida procurando. Ainda sou jovem, mas pareço um velho. Mal tenho forças para trabalhar, e minha família vive na miséria!

  • Se tivesses vendido um só daqueles diamantes que desenterraste, já seria suficiente para viveres confortavelmente.

  • Diamantes?

  • Sim, diamantes. Tu não os encontraste porque procuravas ouro ou qualquer coisa que reluzisse ao sol. Mas todo aquele cascalho que empilhaste no teu campo é diamante bruto.

O homem abaixou a cabeça e cobriu o rosto com as mãos. Um misto de mágoa, arrependimento e vergonha encheu o coração do homem. Pensou consigo mesmo:

  • Era rico e não sabia, porque não soube reconhecer a riqueza que tinha. Perdi a vida toda em vão.

  • Não te preocupes, disse o anjo, basta que aprendas a lapidar os diamantes que desenterraste.

  • Mas já não estou morto? - perguntou o homem.

  • Não - respondeu o anjo - Teu desejo de te tornares rico eu o realizei; mas teu desejo de morrer, não.

O homem alegrou-se. Sentiu-se aliviado. E então perguntou ao anjo:

  • E como devo lapidar os diamantes?

  • Ah sim! - respondeu o anjo - Quando chegares em casa com teu carro, ponha a mão sobre o capô, sinta o calor do motor do teu carro, e diga-lhe: "Muito obrigado por me transportar, meu carro";

Quando teu cachorro vier te saudar, olhe nos olhos dele e diga-lhe: "Muito obrigado por guardar minha família, meu cão.";

quando encontrares tua mulher, olhe nos olhos dela e diga-lhe: "Muito obrigado por me aceitar como eu sou, minha mulher";

quando encontrares teu filho, olhe nos olhos dele e diga-lhe: "Muito obrigado por teres me escolhido como pai, meu filho";

quando encontrares teu patrão, olhe nos olhos dele e diga-lhe: "Muito obrigado por receber o trabalho das minhas mãos";

quando encontrares teu colega, olhe nos olhos dele e diga-lhe: "Obrigado por colaborar no meu trabalho, meu colega";

quando fizeres compra na venda, olhe nos olhos do vendedor e diga-lhe: "Obrigado por suprir as minhas necessidades, meu amigo".

Dizendo isto, o anjo se afastou.

O homem, pensando sobre o que o anjo lhe dissera, refletiu e gritou:

  • Mas isto é muito cafona!!!

O anjo virou-se, e o homem prosseguiu:

  • Para a minha esposa e até para o meu filho eu posso dizer estas coisas. Mas todos vão me achar louco se eu falar estas coisas para as pessoas; principalmente se eu começar a falar com o cachorro e com o carro!

O anjo então lhe disse:

  • Já não leste nas escrituras que aquele que não trair sua esposa, mas que olhar para outra mulher desejando possuí-la, já em seu coração cometeu adultério com ela?

O homem acenou positivamente com a cabeça

  • Mesmo que não abras a tua boca, mas se em teu coração tiveres gratidão, o efeito será o mesmo.

Então o homem tornou-se muitíssimo rico, porque possuía muito mais do que aquilo que poderia desejar.

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